Quinhentos anos de espera

28/03/2014

Quinhentos anos de espera

Por Antônio de Oliveira

Cem Anos de Solidão é uma obra do escritor colombiano Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel de Literatura em 1982. Pode ser que esta crônica não tenha a ver com essa obra. Ou tem? Pelo menos no título, com o número de anos aumentado exponencialmente.

Quanto ao conteúdo, este texto tem mais a ver com o emblemático brasileiro, de Chico Buarque, Pedro Pedreiro. Penseiro, esperando o trem, esperando, esperando, esperando o sol, esperando o ônibus, esperando o aumento que não vem. Esperando o futebol, esperando o carnaval, esperando a Copa do Mundo, esperando a sorte que não vem. Mas faz sua fezinha, toda semana, na megassena. Sempre esperando. E a mulher de Pedro Pedreiro está esperando mais um filho pra esperar também. Pedro Pedreiro, penseiro, tá esperando a morte, que esta é certa, talvez pensando na morte da bezerra, uma perda inestimável. Ou esperando o dia de voltar pro Norte.

Esperando o dia de esperar ninguém, e de ninguém, de deixar de esperar do governo, de deixar de ser penseiro para ser pensante, mas falta escola, falta hospital, falta estrada, falta transporte. Esperando, enfim, nada mais além que a esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem. Que vem, que vem, que vem, que já vem.. mas vem superlotado. Gente de mais. Governo de menos. Ou desgovernos?

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Na verdade, Pedro não sabe mas talvez, no fundo, espere alguma coisa mais linda que o mundo, maior do que o mar. Mar que Pedro Pedreiro, se do litoral, conhece de sobejo, de montão, de sol escaldante, de estrada de areia à beira-mar. Se pescador, melhor, digo, pior ainda. Então, pra que sonhar se dá o desespero de esperar demais, se há 500 anos o brasileiro espera?

O brasileiro tá cansado de esperar, de esperar um milagre, milagre brasileiro que não acontece. Cansado de esperar em vão. Cansado de solidão. Cansado de ser tapeado, espoliado pela tributação e pela ruindade dos serviços públicos. Eh!… Mas há quem goste. E como!

Autor: O professor Antônio de Oliveira, cronista fascinante, é Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. Licenciado em Letras e em Estudos Sociais pela Universidade de Itaúna; em Pedagogia e em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del Rei. Estágio Pedagógico na França. Contato: [email protected]

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