A crise na Ucrânia está longe de acabar?

31/03/2014

A crise na Ucrânia está longe de acabar?
Se é que viveram sem crise algum dia.
Interesses ocidentais para cá, orientais para lá, cada um no mundo quer apenas proteger o seu e levar a sardinha para a própria brasa.
Esta é a grande verdade que rumina não apenas sobre Kiev mas sobre todo e qualquer país seja ao leste ou ao oeste: tudo, na grande maioria das vezes é pelo dinheiro ou pelo poder. Ou pelos dois.

A ESCOLHA DE KIEV
Por Mauro Santayana
(Hoje em Dia) – O Presidente Obama afirmou, em entrevista, para a imprensa holandesa, que Kiev “não precisa escolher entre leste e oeste”, e que é importante que o povo ucraniano tenha boas relações com a Rússia, os EUA, e a Europa.
Os ucranianos deveriam agradecer penhoradamente esse conselho, e lembrar que era exatamente isso que estavam fazendo antes que o Ocidente se metesse no país.
Kiev poderia ter sobrevivido, por muito tempo, com seu território intacto, se tivesse continuado seu movimento pendular tradicional, inclinando-se ora para o Ocidente, ora para a Rússia, buscando obter vantagens dos dois lados.
Ao dar ouvidos à OTAN, esticando a corda ao máximo, a ponto derrubar o governo, os neonazistas que assumiram o poder obrigaram a Ucrânia a queimar seus navios, sem olhar para trás.
Com isso, Kiev perdeu a Criméia, o mercado russo para seus produtos, o dinheiro prometido por Putin, e muito mais.
Depois de botar fogo na fogueira, o Ocidente – como se pode ver pelas declarações de Mr. Obama, está, apesar da retórica agressiva somada a “sanções” praticamente inócuas, tentando salvar a cara enquanto pensa em um jeito de se afastar do atoleiro ucraniano.

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Kiev deve 170 bilhões de euros, e precisa de 50 milhões de metros cúbicos de gás, todos os dias, para tocar a economia e não congelar.
Mesmo que fosse possível convencer a população europeia a pagar a conta, quando ainda sofre com as graves consequências da crise econômica, ainda haveria a questão do gás.
O engenheiro enviado pelos EUA para estudar a situação, disse que seria possível assegurar sete milhões de metros cúbicos de gás, até o fim do ano, desviando parte do gás russo fornecido à Europa, o que representaria apenas 14% da demanda ucraniana, para enfrentar um inexorável inverno, que, neste ano, como em todos os outros, vai chegar.
E isso, se a UE pudesse prescindir desse gás, que teria de ser pago pelos ucranianos, ao mesmo preço de mercado cobrado por Moscou dos próprios europeus.
Ao dizer que Kiev não precisa escolher, necessariamente, entre Leste e Oeste, depois de tê-la empurrado contra Putin, os EUA estão lavando, olimpicamente, as suas mãos, como se nada tivessem a ver com a situação.

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O seu recado, e o da OTAN, para os ucranianos, é o mesmo que o Coronel Pedro Tamarindo deu aos seus soldados, ao abandonar a Coluna de Moreira César, na Guerra de Canudos: em tempo de Murici, cada um cuide de si.
O que pode servir de advertência, para aqueles que, a exemplo de parte do exército de famintos, órfãos e refugiados da Primavera Árabe, se deixam seduzir pelas sinuosas sereias do Ocidente.
Elas não trazem Liberdade ou Prosperidade. Seu objetivo é destruir e fragmentar, com o seu canto – como fizeram nos Balcãs, no Iraque, no Afeganistão, no Egito e na Líbia, a unidade e a estabilidade – desde que não tenha armas atômicas – de qualquer nação que possa vir a ameaçar seus interesses no futuro.

[author] [author_image timthumb=’on’]https://www.duniverso.com.br/wp-content/uploads/2011/10/Mauro-Santayana-jornalista.jpg[/author_image] [author_info]Nascido em Minas Gerais em 1932 Mauro Santayana ocupou como jornalista, cargos destacados nos principais órgãos de imprensa como Folha de S. Paulo, Gazeta Mercantil e Jornal do Brasil, no qual mantém uma coluna sobre política. Além de milhares de atividades foi diretor da sucursal da “Folha de São Paulo” em Minas, foi correspondente do Jornal do Brasil em Bonn, na Alemanha, cobriu a invasão da Checoslováquia pelas tropas do “Pacto de Varsóvia”, a “Guerra Civil Irlandesa” e o “Conflito do Saara Ocidental”. Foi também Diretor Presidente do “Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais”, na área Cultural, Adido Cultural do Brasil em Roma e ganhou o Prêmio Esso de reportagem de 1971. E muito mais![/author_info] [/author]

Publicação autorizada pelo autor: maurosantayana.com

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