Comissão da verdade

02/04/2014

Comissão da verdade

Por Antônio de Oliveira

O que é a verdade?… Na Odisseia de Homero, poeta épico grego de séculos a.C., considerado autor da Ilíada e da Odisseia, no momento em que Ulisses está prestes a escapar das garras de Circe, essa o adverte do perigo. Metade mulher, metade peixe, as sereias seduziam com sua voz sensual, mágica e inigualável, aos escolhos do mar, os incautos que se aproximavam para ouvi-las. Daí a expressão canto da sereia, significando palavras ou atos de atrativo com que alguém simula estar falando a verdade: Aproxima-te, célebre Ulisses, glória dos aqueus! Detém a nau a fim de escutares os mais belos cantos. Os que por aqui passaram sempre pararam para nos ouvir.

Fazendo-se passar por detentoras da verdade, essas feiticeiras acrescentavam: Conhecemos o presente e o passado, e dir-te-emos o que o futuro te reserva.

Odisseu-e-as-Sereias-William-Waterhouse

Uma das cenas mais dramáticas, justamente no maior julgamento da história, se repete, guardadas as proporções, em todo julgamento. Segundo o evangelista João, Pôncio Pilatos, no pretório da Judeia, interroga Jesus, querendo saber: “Tu és o rei dos judeus?” Jesus responde: “Nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade escuta a minha voz”. Pergunta-lhe ainda Pilatos: E o que é a verdade? E, dito isso, tornou a sair, para ir ter com os judeus, e disse-lhes: “Não encontro nele crime algum”. Pilatos prefere sair de cena a ouvir o que é a verdade.

Prefiro o estudo da História da Filosofia ao estudo da própria Filosofia. Pois, como diz Oswald de Andrade: “As ideias tomam conta, reagem, queimam gente nas praças públicas”. Até isso… Assim, qual o papel de uma Comissão da Verdade? Afinal, nem mesmo o Judiciário ostenta a palavra ”verdade” como epígrafe de seus julgamentos. Ela aí está embutida, em razão de sua busca permanente, pois a verdade liberta. Mas não conhecemos a verdade nem sobre nós mesmos. Somos peregrinos da verdade. Nome mais adequado, então, seria: COMISSÃO PRÓ-VERDADE.

Autor: O professor Antônio de Oliveira, cronista fascinante, é Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. Licenciado em Letras e em Estudos Sociais pela Universidade de Itaúna; em Pedagogia e em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del Rei. Estágio Pedagógico na França. Contato: [email protected]

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