Já foi assim…

27/05/2014

Já foi assim…

Por Antônio de Oliveira

– Olha o padeiro…
O pão sendo conduzido, a princípio, a pé, balaio nos ombros, ou de carrocinha; depois, de bicicleta. Três pães de sal aqui, meia dúzia ali, broinhas acolá. Eventualmente, também salgados na cacunda. O entregador de pão madrugava, e ainda trabalhava o dia inteiro.

– Olha o verdureiro…
A verdura, vendida de porta em porta. No balaio. E na sola do sapato. Ou mesmo sem calçado. Não se usava tênis nem se usavam sandálias havaianas. A Bonequinha Preta, de Alaíde Lisboa, cai da janela e cai justamente num cesto de alfaces.

– Olha o leiteiro…
O leite, numa carrocinha, medido na hora. A vasilha era sempre do comprador. É verdade que não se usava jaleco branco, mas o leite, sim, já era branco…

– Olha o frango…
Amarrados pelos pés e enfiados numa vara apoiada no ombro.
Era assim que os frangos vinham dependurados. Na manguara.

verdureiro-mascate-vendedor-ambulante

– Olha o pirulito…
Tabuleiro de doce de leite, caixa de pirulitos, cartuchos de amendoim torrado, e ovos. Rodilha de pano na cabeça apoia outra carga, uma bandeja de quitanda. Trabalhava-se noite adentro, à luz de lamparinas.

Olha o funileiro…
Que saía, de porta em porta, soldando vasilhas e apondo alça de folha-de-flandes a latas vazias.

– Olha o amolador…
Ao som característico da dança da lima com o esmeril o amolador de facas se anunciava aos fregueses. Não se usava a palavra cliente. Amolador de facas e de tudo o que corta: tesouras, alicates, para ficar tudo nos trinques. Bem afiado.

O esmeril do tempo esmerila o progresso, esse, sim, um cliente que não pede licença, e vai rompendo com o passado. Mudando os hábitos. Diluindo o romantismo. Cultuando o virtual. Veloz. Instantâneo. Mudando coisas, conceitos, gente. Mudando. Mudando para melhor ou para pior, pois nem tudo o que vem em nome do progresso vem para melhor. Ou se vem, precisa ser monitorado. Como no trânsito. O automóvel passou a valer mais do que as pessoas. Porque há valores que se invertem. E como!

Autor: O professor Antônio de Oliveira, cronista fascinante, é Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. Licenciado em Letras e em Estudos Sociais pela Universidade de Itaúna; em Pedagogia e em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del Rei. Estágio Pedagógico na França. Contato: [email protected]

Imagem: sxc.hu

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