Geração de Cabeça Baixa

03/02/2016

Geração de Cabeça Baixa

Por Antônio de Oliveira

Naquele tempo, Moisés foi surpreendido com um acontecimento inesperado. Encontrou seu povo, e povo de Deus, adorando um bezerro de ouro. Ofereciam sacrifícios ao ídolo, comiam e bebiam, e dançavam. Moisés se indignou, naturalmente. Hoje, distante no tempo, esse episódio bíblico parece risível a muita gente. Adorar um bezerro de ouro?

A lembrança desse episódio bíblico tem tudo a ver. Só muda o objeto de adoração, cuja matéria-prima é a mesma, o ouro ou coisa que o valha como valor supremo ou objeto de uso ou consumo. O poeta Virgílio já se referia à “sacra” fome de ouro. Os corruptos em geral estão atrás de ouro, de dinheiro, de dólares, de propinas incalculáveis. Ganhar na loteria, para muitas pessoas, é o maior sonho de consumo.

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Como objeto de consumo, parece que a nossa geração optou por eleger o smartphone como o maior ícone da deusa tecnologia, prestando-lhe, por vezes dia e noite, sua reverência, e se mantendo de cabeça baixa horas e horas seguidas. Namastê é um cumprimento em sânscrito. Ao pé da letra, significa “curvo-me diante de ti”. Na ioga, namastê é o cumprimento que se dirige ao instrutor e, nesse caso, significa “eu sou o vosso humilde criado”.

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Fico imaginando que as pessoas nomofóbicas, isto é, que não se desgrudam do celular para nada, tão logo acordam de manhã dirigem ao seu smartphone o cumprimento namastê. A propósito, a palavra nomofobia é uma abreviação de “no mobile phobia” que, literalmente, significa o medo de ficar sem celular. Uma pessoa nomofóbica mal sabe o que é conversar “tête-à-tête”, cara a cara, olhando de frente, muito menos olhando nos olhos de seu interlocutor que, nesse caso, também deixa de ser interlocutor. E, quando o é, o celular funciona como uma espécie de moço de recados sempre à disposição, desde que esteja ligado e à mão.

Finalmente, acho que vale também para o uso do celular a advertência sobre o consumo de bebidas alcoólicas: – Use com moderação!

Autor: O professor Antônio de Oliveira, cronista fascinante, é Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. Licenciado em Letras e em Estudos Sociais pela Universidade de Itaúna; em Pedagogia e em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del Rei. Estágio Pedagógico na França. Contato: [email protected]

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