PATERNIDADE CONTINUADA

13/08/2019

PATERNIDADE CONTINUADA

Por Antônio de Oliveira

Tornar-se pai é fácil; ser pai é difícil. Todo filho é prova da existência de um pai biológico; nem todo pai é prova de si mesmo como Pai com “P” maiúsculo. Um lar pode ser uma prisão, um dissimulado cárcere privado vigiado por um pai autoritário. Mesmo que seja esplêndida, dourada, uma gaiola inibe o voo do “Pássaro Cativo”, rouba-lhe a liberdade. Para o poeta Olavo Bilac, Deus concedeu por gaiola a imensidade. Voar! Voar!

Não basta colocar filho no mundo. Ou, na versão mais conhecida deste recado: Quem pariu Mateus que o embale. Sem aprisioná-lo. Principalmente hoje em dia, em que o mundo se tornou uma aldeia global. O ser humano nasce criança, palavra associada a vir a ser. Para isso nasceu, para isso veio ao mundo ou foi posto no mundo. Ser pai é promover a travessia, para o existir, de quem não era, não existia.Ser pai é ser responsável e sentir-se corresponsabilizado por uma dinastia. Os Maias, os Carvalhos, os Oliveiras. Não basta ser pai. Tem que participar.

Sendo pai, no gerúndio, protagoniza o que está acontecendo. Participa do fluxo contínuo de evolução. Lembrando S. Paulo, mesmo fazendo o que não queremos e deixando de fazer o que queremos. Repto constante, busca de completude. “A tarefa de ser completo nunca termina”. É o fim da missão que é dada por finalizada. De novo, o apóstolo das gentes, Paulo, após combater o bom combate, conservou a fé, cumpriu a própria missão. Com humano êxito.

Com os humanos defeitos.

Na alma de cada pai, desde os mais letrados aos menos letrados, desde os mais ricos aos mais pobres de bens materiais, deve pulsar o anseio de tornar realidade a felicidade dos filhos. Não se trata de lição de moral. Imoral é não ser feliz e não fazer os filhos felizes. Sou fã do nome de minha neta, Beatriz, que significa aquela que faz os outros felizes. “Sim, me leva para sempre Beatriz / Me ensina a não andar com os pés no chão / Pra sempre é sempre por um triz / Ai, diz…”

PATERNIDADE CONTINUADA – VATER SEIN

(Versão erudita)

Por Antônio de Oliveira

Alvorar, alvorecer, amadurecer, anoitecer e florescer são verbos incoativos. Exprimem começo de ação, de movimento progressivo. O gerúndio exprime o que está sendo, acontecendo. Junto dos auxiliares ir e vir é fluxo: estou indo, vou vivendo. Vir a ser corresponde, em latim, a (in) fieri, em francês, a devenir, e, em alemão, a das Werden. Com isso se tenta expressar o fluxo contínuo de evolução. Coisas continuamente acontecendo. Com o aval de S. Paulo, podendo acontecer que o bem que eu queira, isso é não faça. E o mal que eu odeie, isso eu faça.

A partir do momento em que nasce, o ser humano é uma criança, a vir a ser um adulto. Para isso nasceu, para isso veio ao mundo ou foi posto no mundo. Participes da obra da criação, os pais promovem a travessia de quem não era, não existia, para o existir. Ser pai, ou sendo pai, é ser responsável e sentir-se responsabilizado por uma dinastia. Os Maias, os Carvalhos, os Oliveiras…

No poema de Wilhelm Busch, sobre o Pai: “Vater werden ist nicht schwer / Vater sein dagegen sehr ist”. Ser pai não é difícil. Pai, por sua vez, é muito. Todo filho é prova da existência de um pai biológico; nem todo pai é prova de si mesmo com “P” maiúsculo: Vater. Um lar pode vir a ser uma prisão. A gaiola, mesmo dourada, esplêndida, inibe o voo do “Pássaro Cativo”, rouba-lhe a liberdade. Para Olavo Bilac, Deus nos deu por gaiola a imensidade. Voar! Voar!

Na alma de cada pai comparece latente o anseio de tornar patente o melhor para os filhos. Desde os mais letrados aos menos letrados, em geral todos querem a felicidade dos filhos.

Repto constante, busca de completude. “A tarefa de ser completo nunca termina”. É o fim da missão que a dá por finalizada. Consoante depoimento do próprio apóstolo Paulo, ele combateu o bom combate: “Bonum certamen certavi”, escreveu ele. Conservou a fé, cumpriu a própria missão.

Alles Gute zum Vatertag!

 

Autor: O professor Antônio de Oliveira, cronista fascinante, é Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. Licenciado em Letras e em Estudos Sociais pela Universidade de Itaúna; em Pedagogia e em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del Rei. Estágio Pedagógico na França. Contato: [email protected] | https://antoniodeoliveira.net/

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