Receita contra a depressão: livro conta a história de superação através da culinária
Ella Risbridger conta como a gastronomia salvou sua vida e como o ato de cozinhar pode ajudar pessoas com depressão
Publicado em junho deste ano, o livro Midnight Chicken: & Other Recipes Worth Living For (“Frango da meia-noite e outras receitas pelas quais vale a pena viver”, em tradução livre) conta, através de receitas e ilustrações, a história de como cozinhar pode ser um grande fator de mudança na vida de muitas pessoas.
A escritora britânica Ella Risbridger, inclusive, deixa explícito, logo nas primeiras páginas, a idealização humana de sua mais recente obra, dizendo que “esta é uma história de esperança, de continuar querendo viver”.
A fala é fruto de uma complexa superação. Ella, antes de redigir as deliciosas páginas — sem sequer conceber qualquer esboço de texto —, não possuía mais entusiasmo pela vida.
Tomada por um forte quadro de depressão, a britânica encontrou, inusitadamente, um excelente remédio na cozinha, e não falo de medicamentos ou qualquer substância química, mas sim do ingrediente especial: paixão.
Da cozinha, a salvação
Determinado dia, Ella Risbridger percebeu que um habitual ato caseiro poderia a fazer parar de chorar. Seria essa, enfim, sua solução?
O referido dia é passível de explicações: após se lançar à frente de um ônibus nas ruas de Londres, numa repentina tentativa de suicídio, a escritora foi parar em um dos hospitais locais. Foi ali que, durante a atividade de recuperação, ela começou a pensar, sem motivos particulares, em assar uma torta.
Ao ser questionada por um dos psiquiatras responsáveis pelo acompanhamento, a britânica, sem mesmo entender o porquê, conseguia apenas imaginar uma apetitosa receita.
“Trabalhei cada ingrediente na cabeça, passo a passo. Quando o psiquiatra de plantão me perguntou por que uma torta, eu só conseguia pensar na crosta crocante, no alho-poró quase translúcido, na manteiga cheirosa, e em ligar a mistura com farinha e leite”.
Recebida a alta, não havia outra opção.
Já em casa, ainda em recuperação do acidente, ela cozinhou a torta. E essa atividade corriqueira foi essencial para sua reabilitação.
A autora percebeu que havia sobrevivido, estava em casa sem chorar e tinha a certeza que aquilo — referindo-se à cozinha — estaria sempre ali.
A obra retrata, assim, por intermédio de receitas, menções e títulos motivacionais, a reestruturação de Risbridger, que voltou a amar o mundo e a vida.
O fato ocorreu há cinco anos, quando a jovem escritora, na época com 21, nem sonhava em escrever um livro sobre receitas. Entretanto, o envolvimento com os pratos foi tão intenso que ela decidiu passar sua salvação adiante.
Culinária, literatura, conforto e empatia
Uma nova discussão foi aberta mediante o setor literário gastronômico. Com exceção de romances e conteúdos científicos, nenhum outro exemplar havia compreendido, dessa maneira, os prazeres e benefícios de cozinhar enquanto apresenta receitas descomplicadas.
Muito se ouve falar, por fora da cozinha e dos livros, sobre os impactos positivos que a prática culinária oferece à saúde mental de um indivíduo. Até mesmo o prazer de comer é elencado como matéria de estudos acerca da questão.
Entretanto, Midnight Chicken conferiu uma nova perspectiva à temática psicológica. Segundo a autora “passar meia hora por dia cozinhando, experimentando, testando, pode ser o suficiente para livrar das armadilhas da depressão”.
Uma série de métodos já foi verificada, atestando diversos benefícios biológicos, como a imposição de controle sobre pensamentos (mise en place), a satisfação e expansão criativa e o enfrentamento de frustrações.
Em seu livro, Ella menciona como aspectos contemplativos do ato de cozinhar, como a concentração necessária, são capazes de nos levar a estados praticamente meditativos, além de gerar sensação de autêntica alegria.
“Há algo de calmante nas receitas — instruções que, seguidas corretamente, levam a um resultado previsível”, apontou.
A confortante obra da britânica é destinada a uma parcela específica da população, mas seus conselhos servem de maneira geral.
Ella Risbridger, com imensa humanidade, traz à luz a necessidade de quebrar padrões de perfeição e estética, — fatores que podem ser determinantes para agravar doenças como depressão e ansiedade — a fim de acalmar qualquer ânimo.
Grande abraço!
Press Office
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