UM NOVO NORMAL
Por Antônio de Oliveira
O que não integra nossa experiência de vida parece distante.
No pós-pandemia restará uma tradição oral e de registros feitos por historiadores, repórteres e cronistas. Romancistas se encarregarão de transmiti-la fantasiada, recriando-a; cineastas farão o mesmo na tela; poetas hão de vê-la como fazendo parte das dores do mundo; novelistas a distribuirão com suspense no final de cada capítulo. Fotos de mascarados. Fuga de aglomerações. Cenário atípico.
Alguém de mais idade, mas com lampejos de lucidez, afirmará lembrar-se de cada detalhe de sua longa vida, da diversidade de opiniões durante a pandemia, das discussões infrutíferas e das estatísticas de óbito. Sempre com a mesma conclusão: As coisas são como são…
Tudo faz parte do irreversível, do desejo nunca totalmente atingido de um mundo melhor. Da presença da fome, do cansaço, da decepção, das frustrações. Do precário atendimento por parte da saúde pública, tanto que quase metade da população dispõe de um plano particular de saúde. Da busca de um novo normal. Um normal sem vírus invisíveis.
Um novo normal ancorado na esperança. Esperança verdadeira, que vai além, secundada pela fé. Após cada estadia num porto, levanta âncora, recolhe-a para partir de novo a singrar os incertos mares da vida.
Urge combater a poluição da miséria, cujas consequências atingem os ricos também. Alimentação saudável, água tratada, esgoto monitorado, saneamento básico, moradias condignas. Poluição da riqueza. Essa talvez seja mais difícil de combater: destruição das matas e de numerosas espécies animais e vegetais, envenenamento do ar, morte das águas, os riscos da energia nuclear. Incluindo rejeitos da mineração em barragens na iminência de se romperem. Enfim, toda uma corrida em busca do progresso mal entendido, sem a devida atenção aos efeitos colaterais.
Normal significa em conformidade com a norma. Que norma? A lógica do momento é: Se de perto ninguém é normal, o novo normal é: Mantenha distância!…
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