A ARTE DO PARAFUSO
Eu, meu mundo e meus dois parafusos…
Prof. Antônio de Oliveira
Uma página literária ou uma poesia não tem a estrutura de um artigo científico. Tampouco é de tal maneira obscura e hermética que mais se assemelhe a uma criptografia. Palavras em código que somente o próprio poeta entenda. Devem ser palavras encadeadas ou encadeáveis que constituam uma sucessão, uma enfiada de um recado de visão de mundo na linguagem que se pretenda. Língua se distingue de linguagem. Esta dá voz aos pássaros, poder de fala à natureza. Aquela costuma ser empregada como sinônimo de idioma e de um órgão muscular do aparelho fonador, no centro da boca.
Vivenciamos, ao mesmo tempo, de algum modo e ao modo de cada pessoa, vários mundos: o mundo científico, que disseca e mostra, o mundo da matemática que demonstra, o mundo do cirurgião que, ao pé da letra, opera com as mãos. A síntese, mais ou menos consciente dessas sinergias, percebe-a a criatura humana suficientemente escolarizada ou experiente, afeita ao poder de síntese.
Introduzir um parafuso numa perna lesionada é ciência e arte, técnica e habilidade de ortopedista.
Um mundo revelado por meio de raios X.
Mundos, mundos, mundos…
Eu, meu mundo e meus parafusos…
Hoje sou uma espécie de homem biônico, caminhante sobre duas pernas ortopedicamente bem encaixadas, graças, há mais tempo, ao competente dr. Eduardo Tavares e, recentemente, na outra perna, graças à competência do dr. Carlos Emílio, ambos em BH. Nesta vida, a gente passa por diversas e diversificadas experiências podendo contar, quando pode, com os recursos disponíveis, desiderato de todo ser humano solidário, sensato e responsável.
Finalmente, a arte do parafuso é helicoidal. Uma visão de mundo. A vida começa enroladinha no seio materno. E vai-se soltando aos poucos mediante ação da natureza e esforço próprio. “Contrario sensu”, remedeia-se uma fratura, com engenho e arte, ajustando-se um parafuso.
“C’est la vie!”
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Imagem de luis cornejo por Pixabay