A CAMINHO DE EMAÚS

01/08/2019

A CAMINHO DE EMAÚS

Por Antônio de Oliveira

Hoje resolvi revisitar uma página, em francês, de François Mauriac. Não para fazer uma tradução ao pé da letra, tampouco um plágio, mas para fazer uma releitura pessoal a partir do texto desse notável escritor. Aos cristãos não nos é estranho o encontro de Jesus com dois discípulos que caminhavam, desiludidos após a morte do Mestre, rumo a Emaús. Mauriac indaga: Quem porventura nunca passou por esse caminho num entardecer quando tudo parecia perdido? O Cristo estava morto em nós. A Ele preferimos o mundo, os filósofos, os falsos sábios, os líderes carismáticos, os famosos que a mídia e a propaganda assim os têm. Ou, então, o poder, a fama, o mando, o dinheiro, a propina…

Pois bem. Tudo parecia frustrante. Nessa altura me lembro de Numa Tarde de Domingo, de Michel Quoist, em Poemas para Rezar… e, de Eliot, “… When the evening is spread out the sky”. Ilações! Aparentemente por acaso, um desconhecido passa a nos fazer companhia. Ao cair da tarde, num gesto hospitaleiro, resolvemos convidá-lo a passar a noite conosco: “Reste avec nous, car le jour baisse…”

Naquela hora, a noite só faz escurecer. Parece que aí termina a vida, tudo acaba. A infância parece mais distante que o começo do mundo. Mas eis que uma porta se abre. O momento é eucarístico. Hora da ceia, hora da fração do pão, “fractio panis”, como era chamada a missa nos primórdios. Na Catacumba de Priscilla, em Roma, um afresco, da primeira metade do século II, ao qual foi dado justamente o nome de “Fractio Panis”, retrata seis homens e uma mulher a uma mesa em semicírculo.

Ambiente de despojamento, chão de terra batida. Nem todo encontro é casual. Uma hora é hora do Encontro. Quando não nos passa despercebido. A vida é feita de encontros, um Encontro pode fazer a nossa vida. Um “E” maiúsculo faz a diferença. Nessas horas, nosso coração como que dá sinal positivo de escuta.

Sinais… Ah, os sinais! Sinais e ilações, binômio investigativo e de autoajuda. Será?

Autor: O professor Antônio de Oliveira, cronista fascinante, é Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. Licenciado em Letras e em Estudos Sociais pela Universidade de Itaúna; em Pedagogia e em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del Rei. Estágio Pedagógico na França. Contato: antonioliveira2011@live.com

Imagem: Wikipedia

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