CARNAVAIS EMBLEMÁTICOS

19/02/2020

CARNAVAIS EMBLEMÁTICOS

Por Antônio de Oliveira

Emprego a palavra “garra” como sinônimo de esforço, empenho, dedicação, agir mais que falar, entusiasmo, enfim. Entusiasmo, ao pé da letra, significa Deus dentro de nós, uma situação como que de estado de graça. Enfim, três palavras fortes: garra, entusiasmo, fé.

No ano de 2011, um incêndio consumiu fantasias de algumas escolas de samba do Rio de Janeiro, tanto que essas escolas não concorreram ao título. Apesar disso, não deixaram de desfilar com garra, brilhantismo e samba no pé e no gogó, depois de se terem superado e recuperado ou refeito com bravura fantasias, adereços, carros alegóricos. A mídia lembrava reiteradamente a figura mitológica da fênix ressurgindo das cinzas.

Se o carnaval do Rio chega a ser considerado o maior espetáculo da terra, embora pessoalmente não simpatize com superlativos analíticos, pareceu-me, na época, um show vibrante de superação, um exemplo de empreendedorismo coletivo. Na verdade, o Brasil pode muito. Em esforços coletivos, de liderança plural. No campo político, bem que a população, em vez de brincar com seu voto ou de vendê-lo a quem dá mais, poderia reagir decididamente à corrupção institucionalizada, à insegurança pública, à violência no trânsito, aos desmandos e à impunidade, aos privilégios que eles próprios, aliados e não aliados, se concedem generosamente.

Enquanto não diminuir a desigualdade que existe entre nossas altas autoridades e o cidadão comum, que trabalha e paga muito imposto, dificilmente um grito de libertação coletivo, à semelhança de um grito de carnaval, viralizará pelas redes sociais. Oxalá um dia venha a valer efetivamente o slogan: “O povo, unido, jamais será vencido”. Mas unido conscientemente. Não demagogicamente. Como povo. Como cidadãos, não como fantoches. Ressurgir das cinzas foi possível em 2011; este ano, 2020, ressurgir das inundações é preciso. Esta a lição, guardadas as proporções, do carnaval carioca de 2011. Quando então, o fogo; hoje, o aguaceiro.

Autor: O professor Antônio de Oliveira, cronista fascinante, é Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. Licenciado em Letras e em Estudos Sociais pela Universidade de Itaúna; em Pedagogia e em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del Rei. Estágio Pedagógico na França. Contato: [email protected]

Photo by Raquel Teixeira from FreeImages

Tags:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *