CASTELOS DE AREIA
Por Antônio de Oliveira
“Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.”
Quem compõe uma peça musical, literária, técnica ou cientifica, é considerado compositor, escritor, escritora, autor, autora. Depreciativamente se diz escrevedor, escrevinhadeiro, escrevinhador, escriba. Curiosamente, plumitivo, de pluma, em latim, pena de escrever, é escritor ou jornalista sem méritos. Jornalista é alguém que exerce essa atividade como redator, repórter, fotógrafo, editorialista… Escrivão é o oficial que escreve autos, termos de processo, atos e outros documentos de fé pública. Escrivão de pena larga, varredor de rua, gari.
As palavras voam, os escritos permanecem. A escrita, segundo Hegel, em Fenomenologia do Espírito, é o lugar da permanência por oposição à palavra fugidia. O que escrevi, escrevi. Palavras de Pilatos.
O escrito permanece, mas só o escrito consistente se torna clássico, se eterniza no tempo. A pessoa previdente e providente não constrói seu castelo na areia, a não ser quem tem veia artística e o faz como passa-tempo na areia da praia. Pois as ondas o levam tão logo a maré sobe. Escrever com consistência é como encrustrar na rocha o alicerce da casa. Levantada aos poucos, com a paciência, persistência e sapiência de um joão-de-barro.
Assim conclui a canção: com alicerce resistente, casa fincada em jequitibá e vigas de jatobá, com muito tijolo e terra, reboco, taramelas firmes contra os ventos uivantes. Casa invejada por sabiás e rouxinóis, pintassilgos, canários, pardais… e pela cigarra imprevidente.
Essa é a receita para se tornar um clássico, um imortal. Não é para qualquer bico. Muita areia para meu caminhão, por exemplo, que escrevo porque me sinto confortável e honrado com meus leitores. Cada qual no seu quadrado. As opções de leitura são inúmeras. Incontáveis!…
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