CIDADES INVISÍVEIS
Por Antônio de Oliveira
De autoria de Ítalo Calvino, no romance As Cidades Invisíveis (Le città invisibili) o navegador Marco Polo descreve sua fantástica viagem por cidades invisíveis. A propósito de cidades invisíveis, quando as chuvas caem copiosas, nossas metrópoles ficam inundadas. Cidades não litorâneas, como São Paulo e Belo Horizonte, se mostram, então, mais vulneráveis a verdadeiras catástrofes. Cenas de emocionar, na TV, se repetem praticamente todo ano: carros arrastados pelas águas, casas construídas em zonas de risco desabando, pessoas sendo salvas pelo corpo de bombeiros, pessoal da defesa civil e voluntários, gente se arriscando em viaturas, ônibus, motos, utilitários enfim, nessas horas de pouca utilidade. Balanço final: mortes, pessoas feridas, traumatizadas, gente apenas com a roupa do corpo.
Nessas ocasiões, emerge um fenômeno de dupla face, constrangedor, patético. Uma face, de planejamento, ou falta de, revela como é frágil a estrutura urbanística, de crescimento irregular, não apenas de ocupação, um problema social, mas também de mansões construídas em locais indevidos, com aquiescência do poder público. Uma cidade visível vai-se tornando quase invisível, ou pelo menos, irreconhecível à medida que as águas do dilúvio vão subindo. Casas e lojas são inundadas. Heranças de briga por espaço acumulam fragilidades urbanístico-arquitetônicas.
A par disso, emerge o lixo acumulado nos bueiros ou lançado aos cursos d’água por moradores ou estranhos. Um cortejo de velharias: fogões, geladeiras, sofás, cadeiras quebradas… Toda espécie de entulho boiando em águas pútridas. Um triste indicador do nosso nível de educação. Na verdade, a água lava, lava tudo, só não lava a si mesma. O meio ambiente, agredido, dá o troco… água suja, poluída, mau cheiro, contaminações. No município de Mariana (MG) a lambança correu e escorreu por conta de uma empresa de mineração. Nos grandes centros, por obra e graça de citadinos.
Autor: O professor Antônio de Oliveira, cronista fascinante, é Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. Licenciado em Letras e em Estudos Sociais pela Universidade de Itaúna; em Pedagogia e em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del Rei. Estágio Pedagógico na França. Contato: antonioliveira2011@live.com
Imagem: freeimages.com
Tags:CIDADES INVISÍVEIS