Como a ourivesaria egípcia criou as joias utilizadas hoje no Ocidente
Peças de antes de Cristo já usavam processos de fabricação semelhantes aos atuais
Os hoje mundialmente famosos colares, pulseiras, anéis e outras joias fazem parte do convívio humano há muito mais tempo do que parece: é um consenso entre os arqueologistas que foram os egípcios, milhares de anos atrás, que começaram com a prática da ourivesaria. “As mulheres egípcias guardavam suas preciosidades em estojos, de onde só elas saíam em ocasiões especiais para embelezar suas donas”, conta o professor de Arqueologia da Universidade Federal de Goiás (UFGO), Ricardo Jadre.
Um dos motivos para a popularidade das jóias era o fato do faraó usá-las como forma de expressar seu poder. Além disso, a sua corte também precisava aparecer frequentemente usando os adereços produzidos em ouro e prata.
Os desenhos das peças remetiam a símbolos repletos de significados que, séculos depois, podem ser visualizados nos hieróglifos ainda existentes: o escaravelho, o nó de Ísis, a flor de lótus, o olho de Horus ou udjat, a cruz ansata ou ankh, o falcão, a serpente e a esfinge – todos carregava mensagens religiosas.
O símbolo mais comum era o escaravelho, que significava ao mesmo tempo o “sol” e a “criação da Terra”. A cruz ansata, um dos principais amuletos egípcios do período, surgiu na chamada Quinta Dinastia (2498-2345 a.C) como um hieróglifo representando a “regeneração” e a “vida eterna”. Quem a usava teria a força da vida e que se sobrepõe a qualquer matéria inerte feia pelas mãos humanas. “Os motivos decorativos na joalheria egípcia também incluíam figuras de deidades variadas, hieróglifos e nós”, revela Jadre.
O simbolismo das jóias egípcias também se refletia da escolha das cores: de acordo com o Livro dos Mortos, o azul-escuro representava o céu durante a noite, o verde era a representação da ressurreição e a renovação e, enfim, o vermelho era uma analogia ao sangue, à energia e à vida.
Ourivesaria
O trabalho dos ourives a partir das peças brutas de ouro e prata ocupava a maior parte do tempo desses artífices. O primeiro passo era a pesagem, feita com uma balança cujo eixo era a cabeça de Maât, a deusa Verdade, feita por um cutelo de metal e de um braço ao centro onde estavam suspensos dois pratos iguais.
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No momento da pesagem, bastava pousar o braço com todos os seus acessórios sobre o cutelo e verificar se os pratos se equilibravam.
Depois da pesagem, era necessário fundir os metais: o ouro ou a prata eram levados ao fogo em recipientes próprios para isso. “Meia dúzia de homens apertados em círculo em volta da chaminé atiçavam a chama, soprando por compridos tubos terminados por uma manga de cerâmica e dotados com um minúsculo orifício. Estes homens gracejavam e não tinham pouco mérito porque tal trabalho era esgotante”, diz um dos livros de Pierre Montet, arqueologista francês considerado o grande nome do estudo sobre o Egito Antigo.
O processo seguinte era a chamada martelagem, que servia para endurecer o metal. A placa já fundida era coletada com uma pinça e colocada em uma forja ativada por meio do sopro: passavam-se os fios por uma fieira até que a peça atingisse o tamanho esperado. Então, era apenas o trabalho de talhar e iniciar a decoração da jóia para que ele ficasse pronta. Entre as peças mais produzidas estavam os braceletes, adornos de cabeça e peitoral, além de correntes de ouro.
“A gramática decorativa dos egípcios era de uma infinita riqueza. Tanto podiam revestir uma taça ou uma ânfora de motivos geométricos ou florais, enquadrando uma cena profana ou uma cena religiosa, ou contentar-se, tomados por um acesso de sobriedade, com uma curta inscrição hieroglífica gravada com perfeição sobre um vaso de forma muito pura. Após os retoques finais e uma última limpeza, a peça acabada era exposta numa prateleira que, no fim do dia, estava guarnecida com os mais variados objetos”, escreveu Montet.
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