Consciência Cauterizada

15/12/2016

Consciência Cauterizada

Por Antônio de Oliveira

Inseparável da nossa vida, a consciência faz parte do viver humano e do nosso conviver: com Deus, com o outro, com o dinheiro, com os animais, com a natureza, com a relva verde e macia, a água cristalina, com a tecnologia Sobretudo com nós mesmos. Autoconsciência. Embora pareça plena, a palavra consciência costuma vir acompanhada de adjetivação: consciência reta, torturada, escrupulosa; plena consciência do que se está praticando, com toda a consciência, sem nenhuma consciência, com ou sem consciência do certo e do errado; consciência do bem e do mal, consciência moral, em sã consciência. Finalmente, consciência cauterizada, aquela que, de tanto abafar a si própria, se cauteriza causticamente.

Uma consciência cauterizada, insensível, mostra-se sensível apenas ao próprio sadismo, sensível apenas a quem mais der, pondo a própria consciência na almoeda, leiloando a própria alma ou vendendo-a ao diabo. O ato de mentir, por exemplo, se repetidamente, a primeira mentira a gente esquece. Pequenas mentiras acomodam aos poucos a consciência a mentiras maiores, mentindo, mentindo, mentindo por mentir. Parece que o cérebro também entra na jogada e se adapta. Assim, fraudes políticas ou financeiras, infidelidades, ou mesmo coçar, comer muito, tornam-se hábitos. Propina, então, passa a ser aceita pela consciência coletiva. Com o tempo e com a prática, desaparecem os últimos lampejos da consciência, daí surgindo matadores de aluguel, profissionais da mentira, artistas da corrupção de terno e gravata ou bandidos inveterados, de arma na mão.

Virtude e vício são hábitos igualmente, embora em direções opostas. Um ato de caridade ainda não configura virtude, como um delito sem antecedentes não representa vício. Virtude e vício se aplainam pela repetição, pela contumácia no certo ou no errado, no bem ou no mal, no moral ou no imoral. Às vezes é um privilégio vergonhoso, antidemocrático, transvestido de legalidade.

Autor: O professor Antônio de Oliveira, cronista fascinante, é Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. Licenciado em Letras e em Estudos Sociais pela Universidade de Itaúna; em Pedagogia e em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del Rei. Estágio Pedagógico na França. Contato: antonioliveira2011@live.com

Imagem: sxc.hu

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