CORTAR PALAVRAS
Por Antônio de Oliveira
“Antes sejamos breve que prolixo” (João de Barros)
Para Machado de Assis, “o adjetivo é a alma do idioma, a sua porção idealista e metafísica. O substantivo é a realidade nua e crua, é o naturalismo do vocabulário”. Adjetivo se adiciona a um nome. Substantivo, de sub + stare, estar firme, dá nome aos seres. A palavra ‘recepção’ é representativa por si mesma, substancial; já ‘calorosa’ é adicional ou adicionada: calorosa recepção. Nem toda recepção é calorosa. “… dia branco, se branco ele for”.
Uma das características dos escritores prolixos é exatamente o excesso de adjetivos. A abundância de adjetivação se justifica nos casos de reforço estilístico. Se digo que o relator fez uma minuciosa descrição, ‘uma’ está sobrando. Se o substantivo ‘descrição’ já está determinado pelo adjetivo ‘minuciosa’, dispensável “uma”, no caso, artigo indefinido, não numeral.
Sutileza, sim, mas que faz a diferença. Principalmente em matéria paga não se deve dizer em duas palavras o que pode ou deve ser dito em uma. Surpreendo-me quando alguém solicita revisão de texto com vistas apenas aos chamados erros de português, gramaticais, independentemente de revisão do ponto de vista da clareza, harmonia e afinação, originalidade, concisão, além do conteúdo. À clareza opõe-se a obscuridade; à harmonia opõem-se as cacofonias e tudo o que fere o ouvido do leitor; à originalidade, opõe-se o lugar-comum; à concisão, a prolixidade… Isso sem falar na formatação e na ilustração, quando é o caso.
Não considero ‘uma minuciosa descrição’, no exemplo, erro de português, mas apêndice desnecessário. Basta: “minuciosa descrição”. Um dos verbos prediletos do revisor é cortar. Cortar palavras.
Vale pensar assim?
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Imagem de mohamed Hassan por Pixabay
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