Crise de que?

28/05/2018

Crise de que?

Às vezes me sinto um ET. Devo mesmo ter vindo de outro planeta, pois não consigo me sentir parte dessa população.

Todos sabemos que a greve dos caminhoneiros não será eterna e muitos apoiam a greve, talvez até a maioria da população, pois consideram-na legítima e o governo brasileiro realmente extrapolou todos os limites. Nem o legislativo, nem o executivo e nem o judiciário sequer cogitam em cortar subsídios dados a empresas “bilhardárias, parar de “perdoar” as dívidas dessas mesmas empresas, cortar salários de marajás de alguns servidores públicos, cortar os “benefícios” financeiros deles próprios, cortar boa parte do financiamento bilionário dos partidos políticos, etc… etc… etc.

Quando é necessário equilibrar as contas, é sempre a população que sofre com diminuição de serviços básicos, aumento de impostos, e por aí vai.

Imagem: Divulgação – Miguel Schincariol/AFP em veja.abril.com.br

O povo, ao invés de tentar minimizar o impacto da greve na sociedade, simplesmente acelera o problema. Imaginem se ao invés de aumentar em até 10 vezes o valor dos alimentos, combustíveis e qualquer outro produto, os comerciantes apenas limitassem a venda para cada pessoa daqueles gêneros, cujo estoque estivesse muito baixo. As pessoas, por sua vez, evitariam consumir combustível, andando a pé, de bicicleta, de transporte público. E ainda respeitariam as filas nos postos, não entrariam na fila mais de uma vez para bular a limitação de quantidade para cada pessoa e nem convocariam filhos, gatos, cachorro e papagaio para entrar na fila a fim de pegar mais um galão de combustível. Óbvio que quem puder adiar um compromisso, também o faria e os passeios seriam suspensos temporariamente.

Assim, os caminhoneiros teriam mais tempo para pressionar o governo e os serviços básicos seriam preservados por mais tempo.

Infelizmente o que predomina no Brasil é a valorização do “eu” em detrimento do nós. “Se está bom pra mim, então está tudo bom”.

É preciso mudar essa atitude perniciosa. Vejam que isso não é cultura, é autodestruição, pois todos nós dependemos de todos os outros. Assim, temos sempre que pensar nos outros antes de fazer qualquer coisa. O capitalismo selvagem que predomina em nossa sociedade alimenta esse “desvio de comportamento” para faturarem cada vez mais. Incutem na cabeça das pessoas necessidades inexistentes de consumir isso e aquilo.

Nossa crise é de fato de cidadania, civilidade, honestidade e educação.

Será que há alguém aí para fazer coro comigo ou sou mesmo um Et?

Autora: Médica Cirurgiã Geral Iriam Gomes Starling é também graduada em Belas Artes. Trabalha profissionalmente com ilustração médica desde 1985. O primeiro livro ilustrado foi Obstetrícia, do prof. Mário Correa, 1988. Hoje possui milhares de ilustrações publicadas em livros didáticos e periódicos.

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