Duas décadas do genocídio em Ruanda

07/04/2014

Duas décadas do genocídio em Ruanda
Por Flávia Prado

Após duas décadas do genocídio que acabou com Ruanda e outras regiões da África, fica o meu questionamento: Quem lançou os mísseis que, ao abaterem o avião do presidente ruandês Juvenal Habyarimana em 6 de abril de 1994, desencadearam o genocídio dos tutsis?
Em abril de 1994, a morte do presidente Juvenal Habyarimana, num atentado em avião, e o avanço da Frente Patriótica Ruandesa produziu uma série de massacres no país contra os hutus, e causou um deslocamento maciço de pessoas para campos de refugiados situados na fronteira com os países vizinhos, em especial o Zaire (hoje República Democrática do Congo).
Em agosto de 1995, tropas do Zaire tentaram expulsar esses refugiados para Ruanda. Quatorze mil pessoas foram então devolvidas a Ruanda, enquanto outras 150.000 refugiaram-se nas montanhas.

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Mais de 800.000 pessoas foram assassinadas e quase todas as mulheres que sobreviveram ao genocídio foram violentadas. Muitos dos 5.000 meninos nascidos dessas violações foram assassinados.
Um dos principais instrumentos usados para atacar de forma sistemática os Tutsi durante o Genocídio foi o Cartão de Identidade (indangamuntu em Kinyarwanda) que distinguia a origem Tutsi, Hutu ou Twa (pigmeu) dos indivíduos. Este, significava uma verdadeira sentença de morte para qualquer Tutsi pois permitia a sua identificação, ao mesmo tempo que facilitava o distanciamento entre os assassinos e as suas vítimas.
Segundo os testemunhos de vários sobreviventes, os documentos eram cuidadosamente recolhidos após o assassinato dos portadores e entregues aos comandantes dos massacres que os usavam para determinar o número de vítimas.

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Estes cartões de identidade foram instituídos em 1933 pela Bélgica, que os introduziu precisamente para criar uma divisão social artificial, por forma a manter o controle da elite Tutsi, através da qual governava a colônia.
Durante vários anos tentaram justificar racialmente a diferenciação destes grupos mas, não tendo conseguido, acabaram por se basear na diferenciação econômica passando a definir por “Tutsi” qualquer proprietário de 10 ou mais cabeças de gado. Desta forma institui-se a segregação mas também a impossibilidade de mobilidade social.
Perante uma crise social cada vez maior e contestação por parte dos Hutu e um crescente sentimento nacionalista por parte dos Tutsi urbanos de classe média, a Bélgica resolve sair de cena, garantindo a independência e a realização das primeiras eleições livres, em 1961, e encorajando um ambiente violento anti-Tutsi como forma de desviar as atenções das suas próprias responsabilidades no cenário de tumulto social em que abandona o país.
Nos anos a seguir à independência tanto no Ruanda como no Burundi verificou-se a intensificação da segregação política e social entre os dois grupos, nos anos 90.
Ruanda viu-se imersa num período de terror ao longo do qual se tentou exterminar uma parte da população, perante o silêncio da comunidade internacional, que assistiu de braços cruzados à escalada da violência. Desde essa data as denominações “Hutu” e “Tutsi” tornaram-se familiares para muitas pessoas que assistiam incrédulas, aos acontecimentos, que a maioria dos órgãos de comunicação social afirmava terem origem em hostilidades tribais.

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Os traumas psicológicos que ainda hoje assombram os sobreviventes são difíceis de avaliar, mas outras consequências do Genocídio, como os 613 mil órfãos com menos de 14 anos registrados em 2004, apresentam números impressionantes.
Tudo indica que os ruandeses estão a trilhar um novo caminho, juntos, deixando cada vez mais para trás os episódios terríveis do passado.
Contudo, a democracia é um processo lento e no Ruanda tem apenas 17 anos. Está em plena adolescência. Talvez daqui a mais alguns anos, quando atingir a maturidade, o peso das idéias e dos projetos políticos seja mais forte do que o peso das divisões sociais.

[author] [author_image timthumb=’on’]https://www.duniverso.com.br/wp-content/uploads/2014/03/Flavia-apresentacao.jpg[/author_image] [author_info]Flávia Prado Lopes Martins é professora. Com Licenciatura em Pedagogia e História tem também em seu currículo o Magistério. Atuante na carreira desde muito cedo em sua vida, defende como ninguém o direito de todos a educação de qualidade. Contato: [email protected][/author_info] [/author]

 

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