E a Primavera, hein?

03/10/2014

E a Primavera, hein?

Por Antônio de Oliveira

Eça de Queiroz assim se referiu à região do Minho e Douro: “Não posso compreender como este é um país falido. Em toda parte onde estive não vi um palmo de chão, onde se pudesse assentar o pé sem perigo de esmagar uma semente. As flores silvestres, não tendo já onde florir, procuram refúgio nos telhados.” / “Esta nossa terra é sem dúvida a obra-prima do grande paisagista que está nos céus. Que beleza! E tudo toma o doce estilo da écloga. Tudo canta. Cantam, trabalhando, cavadores e ceifeiras, até canta o carro de bois, o velho carro do Latium, levando o mato pelas azinhagas!…”

Em que pese ao impacto ambiental causado pela mão do homem, o Brasil ainda é também obra-prima do grande paisagista que está nos céus. Também aqui ainda se veem flores silvestres que procuram refúgio nos telhados. Nossa eterna primavera é perene. Desertos não os temos, embora a ação predatória esteja fabricando-os. Dessa forma, não se pode compreender como este é um país falido. Nossa falência está muito mais na má administração, na malversação do dinheiro público, no nosso espírito de acomodação. Na verdade, o problema está noutra terra que Eça de Queiroz também identifica:

“Há desertos mais floridos, há rochas mais sensíveis do que esta terra dura que se chama a alma humana contemporânea? Não, em verdade vos dizemos. E culpado seria aquele que, sentindo em si a fonte salutar da consolação interior, quisesse negar aos espíritos sedentos a frescura da sua onda.” / “… este mundo se vai tornando seco em fé, baldo em crenças e falho de esperança.”

No Brasil, nós temos “onde em se plantando tudo dá”. A dificuldade está na insensibilidade de nossas autoridades, secas em fé e baldas em crenças, que se omitem, acumpliciam-se com especuladores, grileiros, desmatadores. O povo, cansado e também omisso, está se tornando falho de esperança. Pudera! Conseguimos transformar este País, outrora Eldorado, em S.O.S.
E a primavera, hein?

Autor: O professor Antônio de Oliveira, cronista fascinante, é Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. Licenciado em Letras e em Estudos Sociais pela Universidade de Itaúna; em Pedagogia e em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del Rei. Estágio Pedagógico na França. Contato: antonioliveira2011@live.com

Imagens: sxc.hu

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