Espada de Dâmocles

23/04/2014

Espada de Dâmocles

Por Antônio de Oliveira

Dâmocles não se cansava de fazer média com Dionísio, tirano de Siracusa. Um dia, Dionísio quis fazer ver ao súdito bajulador os riscos aos quais está sujeito um governante. Convidou-o a sentar-se no trono, durante um festim, e ordenou aos seus que o tratassem como se fora um rei. Mas ordenou também que lhe colocassem sobre a cabeça uma espada pendurada por uma crina de cavalo.

Embriagado pelo poder, e erguendo o olhar, Dâmocles percebeu o risco que estava correndo, uma vez que o fio poderia se romper a qualquer momento. Dessa forma, a espada de Dâmocles tornou-se símbolo de instabilidade no poder. Isso sem falar na morte natural que pode acometer qualquer um de nós a qualquer hora. Afinal, rico ou pobre, governante ou governado, jovem ou idoso, para morrer basta estar vivo.

Damocles-espada-Dionisio

Após uma batalha bem-sucedida, o triunfador percorria as ruas de Roma acompanhado de numeroso cortejo. Um escravo, por detrás da carruagem dourada, lhe fazia a seguinte advertência: Cuidado para não caíres. Em latim: “Cave ne cadas”. O imperador não se deixasse possuir de desmedida vaidade. Cuidado, cuidado, Deus está vendo. “Cave, cave, Deus videt”, inscrição no centro do quadro Os Sete Pecados Capitais de Hieronymus Bosch, pertencente ao Museu do Prado. Finalmente, “sic transit gloria mundi”.

Assim passa a glória do mundo, como mais uma advertência, desde tempos idos: no jovem de ontem, hoje em avançada idade, as paixões já não crepitam e sua fama se esvai. Tudo passa.

Cuidado, governantes, atualmente Espada de Dâmocles são as redes sociais pela sua grande força de mobilização. O índice de aprovação de um governante pode despencar de uma hora para a outra. Assim, a menos que haja uma mudança positiva de rota, ninguém pode prever continuidade no poder. Nem mesmo um tirano, um ditador de direita ou de esquerda.

Em tempo: parece-me que a empatia conquistada pelo Papa Francisco, no Brasil, se deveu à sua popularidade sem populismo.

Autor: O professor Antônio de Oliveira, cronista fascinante, é Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. Licenciado em Letras e em Estudos Sociais pela Universidade de Itaúna; em Pedagogia e em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del Rei. Estágio Pedagógico na França. Contato: [email protected]

Imagem: Wikimedia Commons

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