O Dia nacional do Livro: o que temos a comemorar?

03/11/2016

O Dia nacional do Livro: o que temos a comemorar?

Fim das eleições municipais em todo o Brasil. O PT, segundo as manchetes dos jornais, foi o “Grande perdedor”, isso por causa dos processos contra corrupção em que vários membros do partido estão envolvidos.

E você, eleitor brasileiro, que foi às ruas lutar contra corrupção, que repassou inúmeras vezes o discurso do Juiz Sérgio Moro contra corrupção, que curtiu e repassou vários posts condenando a corrupção, se considera honesto?

Então me diga: já entrou naquela comunidade que disponibiliza filmes, que acabaram de ser lançados no cinema, de graça? Já foi àquele camelô ou naquele shopping popular só para comprar um CD ou um equipamento eletrônico mais baratinho? Foi àquela oficina, looooonge, mas que vende peças para carro pela metade do preço?

Só mais uma pergunta: copiou do seu amigo o arquivo daquele livro eletrônico? O livro é até baratinho e você até tem o dinheiro para comprá-lo, mas seu amigo comprou, não é? Então, por que é que você vai comprar também? Afinal, você é esperto o bastante para não gastar esse dinheiro com sua cultura e seu conhecimento, não é?

Dia 29 de outubro foi o Dia Nacional do Livro. A data é em homenagem à fundação da Biblioteca Nacional do Brasil em 1810. A Biblioteca fica na cidade do Rio de Janeiro e é a maior biblioteca da América Latina, considerada pela UNESCO uma das dez maiores bibliotecas nacionais do mundo.

A data quase não foi lembrada nas redes sociais, refletindo a importância que o brasileiro, em geral, dá para o conhecimento e a cultura.

Para não dizer que não passou em brancas nuvens, vi um post entusiasmado de uma pessoa que “achou” um site que disponibiliza livros de graça para download. O site estava pedindo uma contribuição para a manutenção do domínio e do servidor. A contribuição deveria ser feita em outro site de livraria virtual, pois não tinham como receber as contribuições, uma vez que o PayPal e o PagSeguro não se associavam a esse tipo de site.

Mas que tipo de site é esse? Ah, não imaginam… Claro, os livros são todos pirateados. O site pede aos associados para disponibilizarem pelo menos um livro que eles tenham comprado, em e-Pub de boa qualidade, para que eles não precisem gastar para “corrigir” o arquivo. Em sua última página ainda deixaram a seguinte frase:

“Propriedade intelectual é burrice, viva a revolução do conhecimento! ”

Quem acha que precisa furtar alguém para ler um livro, é por que nunca se deu ao trabalho de ir a uma biblioteca pública.

Sim, é furto. Fazer um livro, custa caro, mesmo um livro virtual: o tempo do escritor ou do pesquisador; o trabalho do ilustrador; o trabalho do revisor; o trabalho do diagramador; o trabalho do designer, para a capa; os custos do domínio da biblioteca virtual, o custo do servidor do site, os custos de divulgação. O livro virtual não tem custo com gráfica, mas o impresso tem.

As pequenas editoras estão fechando em cascata, especialmente aquelas que apostoram no livro virtual. As pessoas não têm pudor em pirateá-lo apenas por que não têm que arrombar uma loja para levá-lo na calada da noite, correndo o risco de ser pego. Mas o ato em si é o mesmo: furto.

Toda essa cascata de profissionais deixa de ter trabalho e deixa de ter sua renda por causa daquele livro que você, “o inocente”, copiou do seu amigo. E seu amigo, que não teve nenhum pudor de lhe passar o arquivo, é seu cúmplice, mesmo tendo comprado o exemplar.

O resultado: menos livros, menos títulos, livros cada vez mais caros, pois muitos têm que ser importados, e as editoras têm que pagar royalty. E aquele autor que você adorou, desistiu de lançar outros livros, pois não consegue sequer sobreviver do seu próprio trabalho. Resolveu dobrar o horário no emprego ou abrir um pequeno negócio de alimentos.

E assim, o Brasil perde mais um talento para a corrupção reinante.

Feliz dia do livro para você também.

Iriam.

Autora: Médica Cirurgiã Geral Iriam Gomes Starling é também graduada em Belas Artes. Trabalha profissionalmente com ilustração médica desde 1985. O primeiro livro ilustrado foi Obstetrícia, do prof. Mário Correa, 1988. Hoje possui milhares de ilustrações publicadas em livros didáticos e periódicos.

Ilustrações e livro, produzidos pela autora do texto.

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