SABER COM SABOR
Tornar “saborosa” a aprendizagem, eis a questão!
Por Antônio de Oliveira
– Sabe o que me ocorre?
Volto frequentemente a assuntos estudados na escola, revisitando-os.
Sem querer ser injusto com a minha classe, na verdade as turmas muitas vezes decoram as lições.
No Enem é a mesma coisa.
Existe um programa a cumprir, geralmente com um extenso conteúdo.
Nem sempre se degustam nem se curtem suficientemente as lições.
Isso sem contar a ansiedade premonitória em face das atividades de avaliação programadas.
Algumas vezes a gente discordava da resposta tida como correta.
Em suma, nem sempre era com prazer que se alimentava o intelecto com um prato feito. Por vezes, o saber era adquirido sem sabor.
Digo: Se cozinhar tem que ser com amor, saber tem que ser com sabor.
Machado de Assis (1839-1908) nos legou Memórias póstumas de Brás Cubas. E cada um, o autor, Machado, e o memorialista, Brás Cubas, e que se identificam, adverte ou ambos advertem:
“Não sou um autor defunto, mas um defunto autor”.
Ninguém melhor do que Machado, esse artista da pena, literalmente, para nos apresentar, de forma indireta, irônica, esteticamente bela, e sobretudo perspicaz, alguns pontos de reflexão sobre o saber adquirido insipidamente e suas limitações (Cap. XXIV). Limito-me a uma de usas tiradas, do autor e do defunto.
“Não digo que a Universidade me não tivesse ensinado alguma (filosofia): mas eu decorei-lhe só as fórmulas, o vocabulário, o esqueleto. Tratei-a como tratei o latim; embolsei três versos de Virgílio, dois de Horácio, uma dúzia de locuções morais e políticas, para as despesas da conversação. Tratei-os como tratei a história e a jurisprudência. Colhi de todas as coisas a fraseologia, a casca, a ornamentação…”
Depois dessa, concluo (concluo o quê?):
Latim não há mais…
Filosofia, quase nada…
Mas saber é bom.
Estudar não é castigo…
Ler é viajar, conhecer um mundo novo sem sair de casa…
Que existe luz na noite de minhas ignorâncias.
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