“Va, Pensiero!”

29/01/2016

“Va, Pensiero!”

Por Antônio de Oliveira

Imagens do passado refulgem na saudade… Tais imagens podem vir representadas em roupas, objetos de uso pessoal, fotos, autógrafos, um relógio antigo de bolso, uma dedicatória, uma carta manuscrita, e selada, e enviada pelo correio à moda antiga. Um vestido velho da mulher amada, aquele restinho do perfume dela que ficou no frasco sobre a penteadeira, um fio de cabelo no paletó. Assim cantam, nostalgicamente, Chitãozinho e Xororó, numa das canções carros-chefes dessa dupla sertaneja de sucesso.

Machado de Assis o diz magistralmente: “Mudam os homens, a vida varia seus aspectos; há porém, nas cousas inanimadas, a virtude de guardar as feições fugitivas do tempo; e a rua insignificante, o prédio denegrido, o muro escalavrado cativam os olhos da memória, reconstruindo a sensação que se foi”. A saudade mora na memória.

A palavra saudade, na sua raiz, está associada com o ato de saudar, principalmente para saudar algum desejado reencontro. “Ai Que Saudade d’Ocê”, é que diz a canção.

Saudades é plural de saudade? Saudades, no plural, são cumprimentos de praxe, e conclusivos, em inúmeras mensagens. Uma espécie de revelação de que ainda se admite matar a saudade. No singular, é uma lembrança que ficou grudada. Mais no coração que na memória.

Voltando para ficar, Roberto Carlos canta que foi abrindo a porta devagar, deixando a luz entrar primeiro e iluminar todo o seu passado. Luzes do passado. Antes, detivera-se em frente ao portão. Quando então seu cachorro lhe sorriu latindo. Sons do passado.

A palavra saudade, tão nossa, provavelmente nasceu para expressar a solidão dos navegadores portugueses, longe dos pais, filhos e demais parentes, dos amigos, da pátria, da própria cultura, de usos e costumes assimilados desde a infância. E a palavra veio para ficar. Para acender luzes no túnel do tempo de nossa existência. Do passado de boas lembranças que se foi. Para o poeta, a gente veio ao mundo para ter saudade.

Autor: O professor Antônio de Oliveira, cronista fascinante, é Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, na Itália. Licenciado em Letras e em Estudos Sociais pela Universidade de Itaúna; em Pedagogia e em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del Rei. Estágio Pedagógico na França. Contato: antonioliveira2011@live.com

Imagem: sxc.hu

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