Vampiros à solta
Enquanto editora não posso ignorar os dados recentemente publicados pelo IBGE e, enquanto médica, não posso deixar de me sentir frustrada. A corrupção no poder público deveria ser enquadrada como crime hediondo, sem acesso a indultos ou a reduções de pena a que o criminoso comum tem direito. A corrupção ceifa o ânimo dos mais aguerridos trabalhadores, que não conseguem colher os frutos de seu suor; destrói toda uma nação e impõe uma qualidade de vida miserável a milhões de pessoas, levando-as à morte precoce.
A falta de educação, de acesso a lazer, de condições mínimas de salubridade e alimentação, antes de matar o corpo, mata a o espírito de inanição. O ser humano fica reduzido a um animal faminto, capaz de qualquer coisa para satisfazer suas necessidades básicas. Nessa condição, se deixa escravizar, vende seu voto por promessas, mata por ninharia e explora seus próprios filhos.
Caridade, amor, solidariedade são palavras que não existem no dicionário dos corruptos. Fazem de tudo para sugar ao máximo a população. São os verdadeiros vampiros da nossa era. É um mal que deve ser arrancado pela raiz. Tranca-los em uma penitenciária é muito pouco. Os bens desses parasitas deveriam ser confiscados, incluindo a dos parentes próximos, eventualmente beneficiados. Em meio a todo esse lamaçal, desnudado pela operação Lavajato, o presidente, parte dessa engrenagem obscura e apodrecida, com uma canetada, concede indulto a essa corja, que não vale uma unha do trabalhador brasileiro.
Reproduzo, a seguir, alguns dos dados estarrecedores publicados pelo IBGE, que podem ser lidos na íntegra no endereço https://www.ibge.gov.br/ e se referem ao ano de 2016.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua, sobre educação, publicada em 21/12/2017 revela que o Brasil hoje conta com cerca de 208 milhões de habitantes, dos quais, 66,3 milhões, com 25 anos de idade ou mais, em 2016, tinham concluído apenas o ensino fundamental. Isso representa mais da metade (51%) da população adulta do país.
Aqui não está sendo levada em consideração a qualidade do ensino, pois muitas pessoas que cursaram o ensino fundamental são analfabetas funcionais (que não entendem o que leem). Situação essa bem confortável para os corruptos, pois um povo ignorante e faminto é um povo facilmente manipulável.
A taxa de analfabetismo no país foi de 7,2% em 2016, ou seja, quase 12 milhões de brasileiros não sabem ler e escrever e, dessas, a proporção de pessoas pretas ou pardas é o dobro da população branca e há cerca de três anos que esses números não melhoram. O Nordeste foi a região que apresentou a maior taxa de analfabetismo, 14,8%.
No Brasil, 24,8 milhões de pessoas de 14 a 29 anos não frequentavam escola e não haviam passado por todo ciclo educacional até a conclusão do ensino superior. Desse grupo, 52,3% eram homens e mais da metade deles declararam não estar estudando por conta do trabalho, além de 24,1% não terem interesse em continuar os estudos.
Entre as mulheres, 30,5% não estudavam por conta de trabalho, 26,1%, ou seja, uma em cada quatro mulheres jovens de 14 a 29 não estudavam, em 2016, por causa de afazeres domésticos ou do cuidado de pessoas e 14,9% por não terem interesse.
A meta 9 do Plano Nacional de Educação para 2015, que previa a redução desse indicador para 6,5%, só foi alcançada para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
No Brasil, 25,4% da população vivia em situação de pobreza em 2016, de acordo com o critério adotado pelo Banco Mundial, que considera pobre quem ganha menos do que US$ 5,5 por dia nos países em desenvolvimento. Esse valor equivale a uma renda domiciliar per capita de R$ 387 por mês, ao considerar a conversão pela paridade de poder de compra.
A situação é mais grave entre os 7,4 milhões de moradores de domicílios onde vivem mulheres pretas ou pardas sem cônjuge com filhos até 14 anos. Desses, 64,0% estavam abaixo dessa faixa de renda
O conceito de pobreza pode ter ainda uma definição que supera aspectos monetários. A SIS 2017 apresentou uma análise de pobreza multidimensional, que mede o acesso da população a bens e a serviços que estão relacionados aos direitos sociais. Do total da população, 64,9% tinham restrição de acesso a pelo menos um dos direitos analisados – à educação, à proteção social, à moradia adequada, aos serviços de saneamento básico e à internet. Novamente, os moradores de domicílios compostos por mulheres pretas ou pardas sem cônjuge com filhos até 14 anos são o grupo mais vulnerável (81,3%).
A solução desse país está na educação. Temos que pensar sempre que não vivemos sozinhos. Não podemos ficar com os braços cruzados assistindo a aniquilação do nosso país, como se isso não nos afetasse.
É necessário que se faça uma cruzada pela educação. Alfabetizar de verdade as nossas crianças, dar a elas acesso a livros, músicas, filmes, teatro…
Para 2018, desejo que povo instruído do Brasil acorde e comece a agir para curar o país da ignorância que cega a todos.
Autora: Médica Cirurgiã Geral Iriam Gomes Starling é também graduada em Belas Artes. Trabalha profissionalmente com ilustração médica desde 1985. O primeiro livro ilustrado foi Obstetrícia, do prof. Mário Correa, 1988. Hoje possui milhares de ilustrações publicadas em livros didáticos e periódicos.
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Enquanto o Governo não implantar educação obrigatória para todos os Brasileiros, não vamos sair do domínio dos tiranos, pois a arma que possuem é de ter um povo sem educação. Master Starling