Você é civilizado?
Por Iriam Gomes Starling
O que estão fazendo as pessoas honestas do Brasil e onde estão elas?
Uma onda de depredações, saques a lojas, farmácias, supermercados e bancos ao menor anúncio de movimentos ou greves tem se tornado recorrente no Brasil. A bola da vez agora está com Pernambuco. É impossível, a uma pessoa civilizada, assistir impassível às imagens dos saques feitos pela população no Recife e Região Metropolitana, divulgadas pela mídia. Fato que ocorreu diante da greve da polícia militar e bombeiros, a partir do dia 13 de maio, à noite.
Infelizmente não se trata apenas de um pequeno grupo de criminosos inescrupulosos os responsáveis pelos furtos, mas de um incontável número de pessoas que se aproveitou da ocasião para cometer os crimes. Hoje vi mais um capítulo desses eventos nos jornais. Algumas mulheres obrigaram seus filhos ou companheiros a devolverem os objetos de furto. Entretanto, tais devoluções, segundo representante da Associação Comercial de Pernambuco, não chegaram a significar nem dez por cento do montante furtado.
Vivo repetindo para meu filho de 16 anos: não existe meio honesto, existem apenas honestos e desonestos. Os desonestos estão sempre à espreita de uma oportunidade para praticar um delito, mas os honestos jamais se aproveitarão de qualquer oportunidade para praticar qualquer delito. Quase consigo ouvir meu pai me dizendo enquanto escrevo essas palavras: “Sou do tempo em a palavra dada de um homem valia mais que uma escrita”.
Uma pessoa desonesta vende o voto por qualquer ninharia ou qualquer benefício pessoal e que se dane o povo. As pessoas estão cada vez mais individualistas, esquecendo-se que o ser humano só sobreviveu por conta da sociedade. Sozinhos nós não somos nada. Somos incapazes de sobreviver isoladamente, mesmo com toda nossa inteligência. Nossa força está em nossa civilização, que está sendo minada a cada dia, com as famílias se desfazendo como areia ao vento. Onde está a moral, a ética, o respeito ao próximo que me ensinaram desde a infância? Valores que estão sendo esquecidos em função do individualismo e do capitalismo insanos.
Sempre que me deparo com esses vandalismos no Brasil, lembro-me imediatamente do tsunami que devastou a costa japonesa. As filas impecáveis, de pessoas ordeiras, esperando a sua vez de entrar no supermercado para tentar comprar algum alimento não me saem da memória. Ninguém passava na frente de ninguém, mesmo sabendo que poderia não encontrar o que comprar quando chegasse sua vez. O mesmo ocorreu com as filas de carros para comprar combustível.
Deixo aqui o testemunho de minha revolta na espreita de que ainda exista um fio de esperança para o ser humano.
Autora: Médica Cirurgiã Geral Iriam Gomes Starling é também graduada em Belas Artes. Trabalha profissionalmente com ilustração médica desde 1985. O primeiro livro ilustrado foi Obstetrícia, do prof. Mário Correa, 1988. Hoje possui milhares de ilustrações publicadas em livros didáticos e periódicos.
Jornal Estado de Minas